sábado, 11 de setembro de 2010

Encontros


Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca.
(Clarice Lispector)

Há encontros que são preciosos, especiais. Que tocam o fundo de nosso ser. Que nos proporcionam momentos que valem por toda uma vida. Quando sentimos que há realmente uma troca, quando sentimos que o outro também está num processo de amadurecimento que acarretou profundas modificações em sua vida, em sua visão de mundo, e que nós conseguimos compartilhar um com o outro um pouco dessas tantas mudanças. Quando nos sentimos tão próximos de alguém que nos sentimos à vontade para contar aquela nossa dor mais íntima – e o amigo parece que entende nossa dor, e nos abraça, e nos consola, e parece estar dizendo com esses gestos: “Estou aqui, sei como é, também tenho minha dor, e também é difícil ter que encará-la algumas vezes...”

Como foi bom amiga, revê-la, receber sua visita em minha casa, mostrar um pouco da minha vida e saber da sua. Quem poderia pensar que uma amizade poderia aumentar tanto mesmo com tamanha distância física que nos separa? Distância física que não diminuiu a amizade, pelo contrário, aumentou a proximidade de nossas almas, em busca de entender esse mundo louco, de tentar ir na contramão dessa cultura que valoriza o imediatismo e o consumismo, de suportar perder nossa ingenuidade romântica sem perder o encanto pela vida, pelas mudanças, pelo encontro, por cada instante da vida que pode nos trazer tanto, nos trazer tamanha riqueza e doçura, apesar das tristezas e dores. Isso é a vida...

Encontros como esses são raros. E talvez por isso mesmo tão belos. Mais belos que a mais bem-feita cena de um filme maravilhoso. Esse tipo de encontro nos propicia refletir sobre a vida ao ver filmes, ler livros, ver vídeos, filosofar um pouco. Permite-nos dividir dores, contar histórias, dar de cara com semelhanças e diferenças, avaliar mudanças, rir de bobagens, nos abrir e fazer um balanço de que, apesar de tudo e das dores, a vida vale a pena (e quanto vale). Encontros acontecem não apenas quando vemos o outro de perto, podem vir por meio de cartas, e-mails, telefonemas.

Contudo, encontros também necessitam do cara a cara, do abraço, do beijo, do afago, afinal também somos seres e carentes, também temos um corpo que anseia sair dessa alienação e cada vez mais ser capaz de simplesmente sentir. Falar de dificuldades e conquistas, medos e superações, diante do olhar do outro. Falar da existência, com toda a dureza e poesia, que faz parte da vida.

Aos meus amigos, em especial à minha queria amiga que passou quase uma semana comigo. Carrego você comigo, carrego você no meu coração.

CARREGO VOCÊ COMIGO

Carrego você comigo

(carrego você no meu coração)

Eu nunca estou sem ele

(onde quer que eu vá você irá, minha querida (..)

(…)

Eis o maior segredo que ninguém conhece

(eis a raiz da raiz e o broto do broto

e o céu do céu de uma árvore chamada vida;

que cresce além do que a alma sonharia

ou a mente poderia esconder)

E este é o milagre que mantém a distância entre as estrelas

Carrego você comigo (eu carrego você no meu coração)



Autor: E.E. Commungs
(Declamado no filme: Em seu lugar – In yours shoes)

*Imagem: Flor de Lótus (Olhada com respeito e veneração pelos povos orientais, essa flor é freqüentemente associada a Buda, por representar a pureza emergindo imaculada de águas lodosas. Lótus é o símbolo da expansão espiritual, do sagrado, do puro.)

Um comentário:

  1. Nossa Mi, que texto lindo! Muito sensível e verdadeiro. Obrigada pela leitura! Beijos virtuais... e quem sabe, até breve?!

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