sábado, 16 de janeiro de 2010

Amor e Mudança

Desde que nascemos, mudamos. Até antes. Da união de um homem e mulher, ocorre a concepção de nosso ser e desde esse momento, mudamos. E mudamos para nos desenvolver, crescer, nascer.

Nascemos e com nosso nascimento trazemos mudanças à família que adentramos. Vamos construindo uma relação de amor com nossos pais, irmãos, familiares, que nos protegem do mundo, nos educam, vibram com nossas mudanças (e podem temer por elas também), conquistas de falar, andar, brincar, entrar na escola...

E esse amor da nossa família transforma aquele "bolinho de carne" inicial em um sujeito humanizado, que cada vez mais expressa seus desejos, vontades, sentimentos, temores. Logo, a partir do amor de outras pessoas nos tornamos humanos, e ao longo de toda a vida, vamos em busca desse sentimento.

Entramos na escola, descobrimos o amor fraternal, o carinho pela professora. Com pais e educadores da escola vamos aprendendo que limite também é sinal de amor - apesar de testá-los e fazermos birras de vez em quando. Desde cedo, vamos vendo que o amor também implica em frustração, em renúncia, em adiamento. O amor também diz não, ou agora não.

Crescendo mais um pouco, sobretudo na adolescência e início da vida jovem, descobrimos o amor dos amigos. A alegria de compartilhar, de dividir conquistas e dores, crescer junto, falar bobagens ou até mesmo refletir sobre a existência.




Vem então o amor específico por aquele outro ser, do sexo oposto. Não é o mesmo amor que sentíamos por nossos pais, professores, colegas, amigos... Mas ao mesmo tempo, se relaciona com esses amores que tivemos ao longo da vida.

Amor pelo outro que exige exclusividade, mas não posse. Cada um terá seus outros interesses, mas não como esse amor específico pelo sexo oposto. Afeto, atração, sexualidade, parceria, compromisso. Às vezes, acabamos por misturar esse amor com outros ingredientes do amor filial, paternal, fraternal... Só que sobressai o Amor homem-mulher. Dois - agora adultos - em busca do Amor. Cada um com sua individualidade, cada um com suas diferenças de ser homem e ser mulher. E como há diferenças entre esses seres que parecem mesmo de planetas diferentes! E como essa diferença é rica, e traz desafios, como tudo na vida.

Se tornar homem, se tornar mulher, viver a experiência de uma relação a dois, dividir o mesmo teto, situações que trazem contentamento, assim como dificuldades. Agora somos gente grande, chegamos onde tanto sonhamos - e temos a nossa própria casa (já que a casa em que vivemos com nossa família de origem era apenas uma casa de passagem).

O casal vai fortalecendo o amor, vai compartilhando a vida, vai tendo um espectador diário de sua existência. Cada um com suas qualidades e defeitos vai aprendendo e ensinando um com outro. Ansiamos nos tornar um só, mas somos dois.

E começam as mudanças. Morre a criança que éramos com nossos pais, apesar dela às vezes renascer na relação amorosa com o parceiro através de um desejo infantil por um amor ilimitado - que tanto atrapalha a relação. O amadurecimento nos faz buscar retirar essa forma intanfil de amor.

Mais uma vez: ansiamos ser um só, mas somos dois. Casamento algum elimina a solidão característica de ser humano, de ter que fazer suas escolhas, bancá-las o tempo todo e se responsabilizar por elas, assumir seu desejo... Trabalhar, envelhecer, sofrer, crescer, mudar!

Retomando: casamento algum elimina a solidão característica de ser humano. Afinal, todos os amores que vivemos, com ênfase no amor homem-mulher, são apenas protótipos de um Amor muito maior.

O amor ao mistério da vida. O desejo de retorno a um Absoluto que nos criou e que nos concedeu uma essência que sente nostalgia desse passado. Inquietudes espirituais, anseio pela vivência de uma espiritualidade que dê significado e sentido à nossa existência.

Contudo, para encontrar ou re-encontrar esse Amor, temos que mudar... morrer... e não sabemos quando, apesar de a ser a única certeza que podemos ter na vida.

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