segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Amigos e Mudanças II

É inexplicável. Você pode ficar dias, meses, anos, sem ver aquela pessoa querida. E quando a reencontra, parece que foi ontem que vocês estiveram juntos, e a afinidade permanece a mesma, apesar das mudanças que aconteceram na vida de cada um. Ontem ansiávamos por situações que hoje vivenciamos. Ontem não tínhamos idéias das situações que enfrentaríamos hoje. E continuamos amigos.
Afinidade é algo surpreende. Torna familiar aquela pessoa que não é de seu sangue, mas pode muitas vezes ser mais próxima que um parente. Torna familiar uma pessoa que você acabou de conhecer, ou que não vê há muito tempo.
Mudanças não nos tiram as amizades que conquistamos, mudanças nos propiciam ampliar nosso leque de amizade ao nos propociar novos belos encontros com novos amigos e com antigos também. Agradeço a todos os meus amigos.
Para celebrar essa situação, nada como a palavra do grande poetinha:

Amigos (Vinícius de Moraes)

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles.
Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure.
E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem-estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem juntos de mim, compartilhando daquele prazer...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente, os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos.
A gente não faz amigos, reconhece-os.

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