quinta-feira, 11 de abril de 2013

Gonzaga de Pai para Filho



Um dos filmes mais intensos que já vi. Uma história não apenas sobre a vida de dois grandes gênios da música brasileira, mas sobre a intensidade das relações familiares, falando, no fundo, de todos nós.

Quem nunca questinou um familiar seu, seja pai, mãe, querendo saber de sua própria história, como aparece Gonzaguinha fazendo com o pai? Quem não teve seus embates com aqueles que mais ama na vida, seja pai, mãe, irmão, cônjuge? Quem não se viu diante de um momento em que pegou suas coisas e partiu para a vida, longe de seus familiares e em busca de si próprio?

É interessante acompanhar a história de Gonzaga, que ao chegar na cidade grande, começa por tocar músicas que acredita que os outros vão gostar, mas que não tem relação com suas origens. Contudo, só quando o rei do baião assumiu suas origens nordestinas que seu sucesso pode brotar.

Será que isso não acontece com cada um de nós? Muitos de nós podemos, ao ter partido, não querer saber de sua própria história, deixar de lado nossas raízes, querendo o novo com toda força de nossa alma, em busca de uma nova identidade.

Até que entendemos que precisamos nos libertar de nossa ânsia desenfreada por novidade, pois precisamos buscar em nós mesmos, em nossas próprias raízes a fonte daquilo que queremos pra nossa vida. Afinal, como diz Lacan, o desejo é desejo do outro. Só podemos desejar porque alguém ou alguéns, algum dia, sonhou com nossa existência.

E retomar aquilo que nos constitui não significa alienação, pois para que possamos nos separar de algo precisamos primeiro ver o quanto aquilo faz parte do que somos. Assumir nossas raízes, nossa história, nos apropriar do que é nosso para sermos autênticos na vida e não meros reprodutores do ambiente ao redor. Como comenta Freud citando Goethe:

"Aquilo que herdaste, torna-te teu para que possas merecê-lo."

Os sofrimentos que pai e filho passam, sejam na história individual de cada um, seja na relação conflituosa entre pai e filho, nos fazem lembrar o quanto cada um passa por tragédias: perdas, dificuldades, impasses, dores. Mas mesmo diante dos pesares da vida, é possível seguir em frente, buscar diálogo, superar mágoas, ter humildade de perdoar, de ter tolerância com o outro. E não perder a poesia da vida.

Amadurecer é perceber que não somos nada, que orgulho não leva a nada, que precisamos do laço com o outro para buscar nossos sentidos próprios. Cada um dá o que consegue dar, e nossa abertura e aceitação da vulnerabilidade do outro pode nos permitir abrir portas no coração do outro que estavam fechadas. Afinal, "Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser...
". Abaixo, a belíssima música de um filho que buscou um pai e o encontrou:

O QUE É O QUE É
(Gonzaguinha)

Eu fico
Com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...

Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...

Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita...

E a vida!
E a vida o que é?
Diga lá, meu irmão
Ela é a batida
De um coração
Ela é uma doce ilusão
Hê! Hô!...

E a vida
Ela é maravilha
Ou é sofrimento?
Ela é alegria
Ou lamento?
O que é? O que é?
Meu irmão...

Há quem fale
Que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo...

Há quem fale
Que é um divino
Mistério profundo
É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor...

Você diz que é luta e prazer
Ele diz que a vida é viver
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é
E o verbo é sofrer...

Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé
Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser...

Sempre desejada
Por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte
Só saúde e sorte...

E a pergunta roda
E a cabeça agita
Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...