quarta-feira, 13 de abril de 2011

Nada será como antes

Após uma gestação tranqüila, a conquista de um parto normal... e chega o bebê tão esperado! E nos damos conta que ele nos é familiar, mas também nos é estranho.

Familiar, porque já o sentíamos com alegria em nosso ventre, já estávamos à espera de um novo membro familiar. Estranho porque um novo tipo de relação será construída, agora aqui fora, de uma forma totalmente diferente, relação nova tanto para o bebê, para a mãe, para o pai, o conhecimento e a magia virão aos poucos, suavemente, como se uma dança precisasse ser aprendida, em que os passos iniciais serão os mais difíceis. "Será que vou dar conta? Será que tenho talento para isso?" - um encontro sem volta com nossa vulnerabilidade e força ao mesmo tempo.

Uma nova fase se inicia, uma mudança gigantesca, anunciando que nada será como antes. Será que ter um filho nos torna adultos de fato, por ter tamanha responsabilidade de educar um ser humano para a vida? Podemos refletir que ter um filho nos faz rever todas as nossas prioridades, as relações que construímos com outras pessoas (como as relações familiares), a relação conosco mesmo, enfim, a relação com a vida.


E a vida se torna mais enriquecida, ganha novos sentidos e contornos, novas estradas e possibilidades, novas mudanças. Força renovada, uma força instintiva que surge para impedir que não venha o “de novo”, mas o “novo”. Com erros e acertos. Um ano depois, um filho depois. A maior mudança de todas, sem camuflar os medos, inseguranças, erros, hesitações. Afinal, tudo é um grande aprendizado, já que nunca se vivenciou tão grande mudança. Que medo! E que alegria tão grande!

Agora é lamber a cria, babar por cada conquista, avaliar o quanto a vida ficou diferente. No amor ao nosso filho, segundo minha professora Eleanor - tese de doutorado Ciência do Início da Vida - revemos nossas memórias celulares que, se foram negativas, serão transmutadas.

É a grande magia da maternidade que aos pouquinhos, devagarinho, nos vai tornando uma pessoa diferente. Que pessoa? Será que podemos ter uma psita ao pensar em alguém mais amadurecido, mais ciente do seu próprio desamparo - afinal, o desamparo do bebê nos remete ao próprio desamparo de todos nós seres humanos, o nomeado por Freud de desamparo fundamental.

Mesmo crescidos, necessitamos do outro, necessitamos viver em sociedade e nos relacionar com outras pessoas para nos sentirmos felizes. Freud já apontava que o relacionamento humano é a maior fonte de felicidade e de sofrimento também. Enfrentar as dificuldades inerentes ao relacionamento com outras pessoas e seguir em frente. Durezas e magias, essa é a vida humana.

Para encerrar, a linda música de Milton Nascimento:

NADA SERÁ COMO ANTES (Milton Nascimento/ Ronaldo Bastos)

Eu já estou com o pé nessa estrada
Qualquer dia a gente se vê
Sei que nada será como antes, amanhã
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Alvoroço em meu coração
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
Num domingo qualquer, qualquer hora
Ventania em qualquer direção
Sei que nada será como antes amanhã
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Sei que nada será como está
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol



Um comentário:

  1. Lindas palavras, parabéns pelo texto e principalmente por esse novo ser familiar lindo.

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