sexta-feira, 25 de março de 2011

Natureza e Mudança


O inventor da Psicanálise, Freud, já dizia que uma das causas do sofrimento humano se dá quando as forças da Natureza se voltam contra nós. Todos os anos vemos exemplos disso no nosso país e no mundo. E neste ano, vimos os desastres com as enchentes em diferentes partes do Brasil e o terremoto forte que abalou o Japão com os consequentes tsunami e acidente nuclear.

Penso que é importante lembrarmos também que as forças da Natureza se voltam a favor de nós. Na verdade, podemos pensar que isso de "contra" ou "a favor" diz sobre o nosso ponto de vista, já que as forças da natureza apenas são, apenas agem.

A Natureza tem sua força imponente. Quando, na nossa história de vida, percebemos esse fato? Lembro que quando eu era criança bem pequena, temia o mar. Contudo, logo depois me apaixonei e desenvolvi uma forte ligação com o mar - elemento que traduz bem a magnitude e a beleza da Natureza. Diante de tamanha grandeza, só nos resta contemplar em silêncio, respeitar, nos entregar à nossa pequenez diante de tamanha infinitude.


Mas parece que estamos dizendo que a Natureza é algo externo a nós... mas ela faz parte de nós, do que somos, de nosso corpo, de nossa existência diária. E quando nos damos conta disso? Ou quando isso se torna bem visível de forma significativa em nossa vida?

Podemos pensar que o nosso corpo é uma expressão visível da atuação da natureza em nós. E o quanto nos esquecemos disso! Eu mesma me vi, em alguma medida, um pouco alienada do meu próprio corpo, ou descarreguei nele as dificuldades que vivenciei ao enfrentar tantas mudanças fortes ao mesmo tempo nos últimos anos.

Até que me deparei com as limitações de meu corpo ao mesmo tempo em que meu trabalho se voltou ao contato com pacientes que padeciam do corpo e das emoções - se é que possível fazer essa separação cartesiana mente e corpo.

E diante disso, veio a acupuntura como a busca dessa visão holística, da integração desse corpo e dessa mente, desse "tudo junto" que somos nós. E veio a experiência da gestação que é uma demonstração clara do poder da vida que a Natureza edifica em nós. E a busca da yoga como outro mecanismo que auxilia nessa tentativa de integração corpo-mente e na vivência de maior consciência da esfera corporal.

Como pode ser possível, a partir de uma história de amor de duas pessoas, a construção de um novo ser, sua concepção, gestação, sua vinda ao mundo - e o parto como um dos pontos máximos da expressão da Natureza em nós?

E não é que as contrações sentidas no trabalho de parto são como ondas do mar que atingem seu pico, descrescem, se vão, e retornam, cada vez com maior frequencia, na orquestra da Natureza que vai abrindo o seu corpo para esse momento tão único que é trazer um filho no mundo... As dores vão nos preparando para a grande responsabilidade da maternidade que a cada segundo se aproxima mais.

O trabalho de parto parece nos levar para um lugar desconhecido dentro de nós mesmos, do qual temos medo de nos perder (e a figura de um acompanhante pode ser fundamental nesse momento, por "nos trazer de volta", como um porto seguro). Nessa situação, entramos em contato com o lado mais primitivo de nosso ser, o lado não controlável, quando sentimos vontade de urrar para expressar esse encontro com esse lado tão natureza de nós mesmos (o que incomoda as pessoas ao redor pois, como disse uma amiga, as pessoas se incomodam de ver uma mulher selvagem, "descontrolada", porque isso contraria tudo o que aprendemos a ser socialmente)...

Desse encontro como nosso lado mais animal e selvagem, tiramos forças para vivenciar esse processo com plenitude, significando isso como algo essencial à nova existência que se vê agora marcada por esse ritual que aponta que nada mais será o mesmo...

É claro que todo o processo gestacional, o trabalho de parto, o contato inicial mãe e bebê, a amamentação, os primeiros cuidados, etc., não são naturais no sentido de seguir uma facilidade "natural" e óbvia.

Afinal, somos seres marcados pela cultura, por fatores culturais, sociais, emcocionais. O que podemos é buscar de ser cada vez mais sujeitos e conscientes do porquê de nossas escolhas e vivências, e viver tudo isso com nosso ser, por inteiro, de corpo e alma. Várias situações vão influenciar em todo esse processo: emoções sentidas, busca de informações, experiências pessoais, apoio de outras pessoas, mudanças já vividas que já nos propiciaram algum amadurecimento, etc.

E tudo será construído de forma singular por cada mulher, por cada família, precisamos buscar a Natureza em nós para termos força para vivenciar o que tantas outras mulheres e famílias já vivenciaram. Mergulhar nesse desconhecido, confiar e se entregar. E receber o mais precioso presente da vida, da natureza: um filho em seus braços.

E esse corpo que adoece, que sofre, que chora, que é finito, que revela nossa fragilidade e finitude... também é potência, vida, milagre, capaz de gerar uma nova vida, de forma normal. Também é Natureza. Força e ternura.

*Imagem: Praia de Ipanema

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