sábado, 12 de junho de 2010

Escolha o seu desejo


Escolhas, responsabilidade, sujeitos. Com o tempo, percebemos que além de fazer escolhas e estar cientes da nossa responsabilidade pela nossa condição de sujeitos, temos que “bancar” a escolha feita o tempo todo.

Mas o que seria isso? Não basta escolher e ponto final, o filme termina. Temos que estar revendo nossas escolhas com o passar do tempo, e ver se queremos mantê-las, se queremos isso de verdade para nossas vidas, no momento atual que experenciamos, ou se nosso desejo se encontra em outro percurso.

Podemos voltar a escolher o que a vida nos apresentou, ou seja, para onde nos levou as consequências e efeitos de nossos atos, de nossas escolhas iniciais, que é claro estavam inundadas de nossos desejos. Mas não sem antes nos questionar: estamos de fato felizes traçando esse percurso para nossa vida? Se não estamos, qual o motivo? Será a insatisfação que persegue a condição humana, ou será de fato a balança pesando mais para um lado do que para outro?

E como é difícil saber o que queremos, qual é o nosso desejo. O mais fácil é reclamar, é dizer-se insatisfeito, do que dar uma visão panorâmica em nossa vida e pensar: é isso mesmo que quero para mim? Onde estou agora? E para onde quero ir e porquê? Quais os planos alternativos? Onde me encontro feliz também e porquê? O que eu gosto, o que me dá prazer? O que tenho feito por mim? Tenho cuidado de mim?

Nossa escolha não é realizada num vácuo,numa bolha isolada do mundo, mas há todo um manancial de afetos, sentimentos, pensamentos pessoais, além de todo um contexto sócio-histórico-cultural, há oportunidades que surgem e precisamos estar atentos e dispostos a encarar, ou não, nesse momento. Ou fugimos ou escolhemos, vivemos (fugir também é uma escolha, da escolha podemos dizer que não há fuga propriamente dita, sempre somos ativos e responsáveis por nossa vida), correndo os riscos e pagando para ver as conseqüências de nossa decisão. Qual é o nosso desejo?

Que responsabilidade! Que Arte! Que desafio! Maior do que saltar de pára-quedas ou andar na montanha-russa!

Vamos imaginar. Uma situação nos acontece. Há busca de outras vivências. Há o encontro com o novo – o choque, o medo e o desejo. Nós somos medo e desejo, somos feitos de silêncio e som... (Lulu Santos) Um dos paradoxos da existência humana, conviver com pólos opostos (vida e morte, amor e ódio, solidão e companhia) e dar uma resposta a isso.

E alcançamos conquistas. Tão sonhadas! Que alegria! E que dor! Ter que começar tudo de novo, ter que mudar, ter que sair de uma posição cômoda e... se movimentar! Dá gasto de energia, não tem jeito! Tem processo de adaptação. Tem processo de luto pela morte daquilo que deixamos para trás. Tem estranhamento inicial. Tem ansiedade. Enfim, tem vida e tem morte também.

E o novo, a princípio, vem acompanhado de desconforto. Como vai ser agora? Eu sabia como era lá e não aqui (exemplos: eu sabia como era morar lá e não aqui , como era ser solteira e não casada, como ser universitária e não profissional, como trabalhar lá e não aqui...).

Saí de minha zona de conforto. Estou correndo riscos. Mas ao mesmo tempo eu quero esse risco! A roupa velha já não me interessa mais, o passado passou, quero o futuro com tudo que tenho direito e desejo! E dever, responsabilidade, as dores, serão inevitáveis, eu sei, o pacote é completo.

Quero então pintar tela do quadro da minha vida com as mãos sujas de tintas, calejadas, cansadas, insatisfeitas, satisfeitas, por terem, lutado. Uffa! E as vivências deixarão marcas no livro da vida, na arte de ser autor da própria vida, apesar dos determinismos e limitações.

Olha:
a vida é nova.
A vida é nova e anda nua.
Vestida apenas com o teu desejo.

Mário Quintana

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