terça-feira, 24 de julho de 2012

Angústia e Mudança

Inquietação e angústia...

Nova página em branco depois de ter escrito quase tudo!
Que medo! Começar de novo, se ver diante do vazio, do branco.

Há situações que nos provocam tensão, inquietação, angústia, estresse, cansaço, que nos "obrigam" a fazer novos arranjos e nos impulsionam
a buscar mudanças em nossa vida.



Hora de mudar! O grito exala por todos os poros da pele,
hora de reativar sonhos de outrora, hora de achar gás pra nova luta.

Que preguiça! Que medo! Que dor! Dor de sair do cômodo,
de se atirar a novos desafios, de criar nova forma de existir no mundo...

De conciliar identidades diferentes, de abraçar a angústia de existir, a dor de viver com toda a força e vontade. A dor de se permitir.

Como ouvi uma vez numa aula de psicanálise que nunca esqueci

"Que a angústia que sentimos não seja paralisante,
que mortifica, pura pulsão de morte,
mas que seja angústia que vivifica, que impulsiona,
também pulsão de vida..."


A angústia que vivifica, que impulsiona não exclui a
pulsão de morte, pois precisamos de morte na mudança,
precisamos deixar morrer aquilo que não serve mais.
E isso dói, machuca, fere.

Como aceitar as dores da vida que nos cansam, nos assustam,
nos paralisam, nos atravessam, nos provocam,
nos angustiam?

Como aceitar que viver também dói?
Que a vida pode ser cruel? Que muitas situações difíceis podem vir ao mesmo tempo?
Que aquilo a que nos apegamos também é fragil, finito, mutável?

Não sabemos a resposta. O que podemos fazer é criar nosso estilo, nosso jeito de estar no mundo. Perceber o que nos conforta,
o que nos alivia, o que nos dá fôlego para seguir adiante
.

Às vezes pode ser nossa supresa diante de um olhar que nos mostrou que não somos invisíveis, que nossa dor não é invisível. Pode ser um texto que lemos de outra pessoa que também precisou de uma pausa para retomar o fôlego diante das durezas e agruras da vida.

Pode ser um pedido de ajuda que se mostrou essencial ao ser recebido. Pedir ajuda é uma aprendizagem que muito pode nos acrescentar. Pode ser um singelo gesto de carinho, pode ser uma troca, uma conversa que mostra que também há dor no outro. Pode ser o encontro com um outro que nos potencializa, que nos fortalece na caminha cheia de duras pedras.

Pode ser a confissão do medo que sentimos perante uma nova fase. Pode ser a retomada de uma paixão antiga que nos faz trabalhar, que nos inquieta, e nos move para buscar respostas e fazer novas perguntas.

Pode ser uma abraço apertado de um ser especial que está começando a vida. Pode ser um documentário sobre alguém que não cedeu a seu desejo, que soube tirar alegria do sofrimento e aprender a viver no presente. E não cansou de perguntar: "o que queres?"

A dor pode aliviar quando aprendermos a viver no presente. A não ficar remoendo o passando nem esperando tanto do futuro. A dor está agora, pode ir embora amanhã e voltar depois. Quem saberá?

Que deixemos a dor entrar, sem temê-la, que não nos surpreendamos com ela - já que é integrante da vida humana -, que ela nos guie nas mudanças necessárias e nos dê força para mudar o que for preciso.

AUSÊNCIA
(carlos Drummond de Andrade)

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

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