sábado, 23 de outubro de 2010

COMER, REZAR, AMAR - a busca de um propósito

Há quase uma semana, vi o filme "Comer, Rezar, Amar" e gostei. Logo que vi o filme em exibição lembrei desse título que já me atraía na livraria, apesar de nunca ter folheado o livro.

Fui ver achando que poderia ser um filme leve, uma comédia romântica açucarada com a Julia Roberts. Contudo, não foi o que vi.

É uma história simples, real, de uma mulher que tinha tudo para ser considerada "feliz" e bem-sucedida pela sociedade, mas que, a partir de suas inquietudes, correu atrás de mudanças para que realmente pudesse encontrar um sentido para sua existência.

Não há como não nos identificarmos com momentos da personagem em busca do difícil encontro consigo mesma. Há um bela cena na Itália em que ela está num monumento antigo e acaba fazendo uma analogia consigo mesma: apesar de estar em ruínas, não houve desabamento, mas resistência ao tempo e até expansão. A partir do caos que ela experimentou, ela pode ir em busca de expandir sua vida, tendo novas experiências e vivências.

Nietzsche já dizia: "É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante" A partir das ruínas em que possamos nos encontrar - tristeza, dores, frustrações, sensação de fracasso por não nos sentir feliz como gostaríamos - é possível surgir um grande impulso que nos move em direção ao novo, a grandes navegações, viagens e conquistas. Quando temos coragem de sair da zona de conforto e procurar um propósito maior na vida. Quando saímos do comodismo e vamos além.

Ao longo das viagens que realizou, Liz encontrou novas pessoas, fez laços de amizade. Isso acontece também quando mudamos de casa, de cidade, de estado civil, de emprego, etc. Lembro da idéia de uma professora psicanalista que é parecida com o que Viviane Mosé disse no programa Conexão Roberto D´avila: "Não sou eu que me sustento, é a rede de relações que eu construo ao longo da vida que me sustenta - na família, trabalho, amizades."

E é na Índia que Liz vai encontrar esse propósito que tanto ansiava. Muitos pensam que se auto-conhecer implica em se isolar, fugir do mundo, viver no deserto. Mas nada adianta, se após a reclusão (na forma que for, se houver), não se voltar ao mundo, pois é necessário uma ação no mundo, ser agente no mundo, que envolve o relacionamento com outras pessoas.

Na vivência de uma espiritualidade que realmente nos re-ligue ao divino, podemos experimentar uma sensação de fraternidade com toda humanidade, independente de credo, raça, religião. Poder nos abrir à compreensão e à torcida pelos outros, outro que também somos nós. Essa conexão nos possibilita nos sentir integrados e fazendo parte de um todo que nos dá significado e sentido à nossa vida.

Com isso, vamos vendo que não precisamos resitringir nossa felicidade à determinado lugar ou na convivência com determinadas pessoas. Aonde quer que formos, encontraremos pessoas as quais nos ligar afetivamente, que podem se tornam grandes amigos ou companheiros de caminhada, com quem possamos simplesmente conviver.

Basta que estejamos abertos a isso, aprendendo com as mudanças, ampliando nossa rede, sem apagar o quanto foi ganho com a troca que tivemos com outras pessoas que passaram por nossas vidas e que também buscavam um significado.

O filme, enfim, conta o relato pessoal de alguém que precisou de viagens pelo mundo para se encontrar. Mas o que podemos pensar é que cada uma terá seu modo pessoal de encontrar o seu sentido singular para as resposta que anseia para sua vida. Para uns, a vida precisa levar para bem longe de seus laços inicias. Para outros, basta viver a vida inteira no mesmo lugar. Afinal, a maior viagem é a interna, as mudanças apenas podem desencadear as transformações que precisamos vivenciar internamente.

Cada um construirá seu próprio caminho, terá sua descoberta pessoal acerca de qual sentido e significado terá sua existência, ou seja, aquilo que realmente faz valer a pena a vida que vivemos.

Um comentário:

  1. Amiga, que texto lindo! Há tempos medito sobre esse assunto e desejava escrever sobre ele no blog... mas não conseguia... você, como uma boa e sensível psicanalista, me fez entender ainda melhor minha busca pelo "divino". Obrigada. Mande notícias! Beijos

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