segunda-feira, 15 de março de 2010

A Liberdade de Voar





Fernão Capelo Gaivota. Um livro que li na minha adolescência e que me marcou . E nesse último fim-de-semana, eu vi filme. E li de novo o livro, que – como quase sempre – é melhor que o filme. E recomendo ambos.

A história é sobre uma gaivota que quer ter uma vida diferente de outras gaivotas de seu bando, que não se contenta em brigar por restos de comida, voar baixo; o que Fernão anseia é cada vez mais se aperfeiçoar no vôo, experimentar a liberdade, não se limitar ao já conhecido.

É, na verdade, uma história sobre todos nós, na busca de superar nossas limitações, de ir além, de escrever uma história diferente de outras pessoas, uma história única, singular, escolhida por nós mesmos.


Fernão é banido por não se limitar a obedecer à lei do bando. O filme diz que, na verdade, somos todos banidos. Podemos pensar que nenhum de nós corresponde totalmente às expectativas de nossos pais, educadores, sociedade - e justamente nesse ponto, muitas vezes, é que somos mais sujeitos, autores de nossa própria história, assumindo a responsabilidade de fazer nossas escolhas e assumir as consequências que elas possam acarretar. É claro que somos atravessados por essas instâncias (família, cultura, sociedade), e o que podemos é assumir aquilo disso tudo que nos constitui e escolher o que fazer de nossa vida, dentro das possibilidades. Refletir sobre a vida e sobre o tipo de pessoas que queremos ser e a vida que queremos ter. E, obviamente, isso não é nada fácil. Além de ser uma grande responsabilidade. Dá trabalho, tem um custo, e seja qual escolha fizermos, pagaremos um preço. Toda escolha implica em perda, e por sua vez, em dor. Às vezes temos que abrir mão de coisas que nos são caras, abrir mão de partes de nós mesmos que precisam morrer para que possamos ir em busca de uma vida mais livre, mais feliz.

Fizemos alguns vôos diferentes desde a adolescência. Muitas mudanças vieram, em várias áreas da vida, mudanças sonhados e outras inimaginadas. Apesar dos vôos diferentes, continuamos ansiando por vôos maiores. Cada vez mais cientes das tantas limitações que possuímos, das barreiras que cada um de nós coloca diante de si que emperram um vôo mais livre e que algumas vezes nos conduz a quedas. E apesar das tantas mudanças, ainda sofremos quando vemos novas mudanças de vôos, quando vem um vonte forte e nos leva para outros mares. Precisamos não criar tanta expectativa diante de novos vôos, saber dosar e aceitar o quanto a vida é imprevisível. Que não nos conformemos com nossas limitações diárias e lutemos a cada instante para nos libertar de nós mesmos. "Temos a liberdade para ir aonde quisermos e ser o que somos..." E que saibamos os momentos de voar, bem como os de pousar.

(Imagens: 1. capa do DVD do filme; 2. capa do livro "Fernão Capelo Gaivota")

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