terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A Mudança do Primeiro Ano como Mãe

Quando nosso filho completa um ano, podemos dizer que nós mães também estamos completando um ano, só que um ano de vida como mãe.

É claro que a mãe que somos é influenciada pelos sonhos que já nutrimos em um dia ser mãe, pelas expectativas que criamos quando fortalecemos o relacionamento com um grande amor, quando sonhamos juntos em ter um filho, quando engravidamos e tentamos nos preparar para a grande mudança que está por vir.

Mas a gravidez é um outro tipo de mudança que a maternidade que nasce quando nasce um bebê. Na gravidez de alguma forma a mãe e o bebê estão protegidos, o corpo da mãe se encarrega de cuidar do bebê de forma quase automática, natural, o bebê se encarrega de ter todas as suas satisfações atendidas na água quentinha do líquido amniótico. Que paraíso!

Até que chega a hora do parto.
A primeira separação (de muitas outras separaçãoes que virão ao longo da vida) na relação mãe e filho. A mãe já ia sentindo que a barriga ficava pesada demais, que uma hora isso tinha que acabar, o bebê também sentia o espaço cada vez mais apertado para seus movimentos e vinha um pouco de desconforto.

E começa o processo de partida e chegada, também o primeiro de outros que virão ao longo da vida. Despedida do barrigão por parte da mãe, despedida da mítica "satisfação completa das necessidades" por parte do bebê.

O trabalho de parto vai acontecendo, o corpo da mãe vai se abrindo para a chegada do filho tão esperado, mãe e filho ativos e atuantes do processo, um acompanhante nesse momento tem papel importante como apoio à dupla mãe e bebê.


E o filho nasce. Nossa! Nada se compara a ter um filho nos seus braços. Emergem sensações nunca sentidas. Mesmo após tanta leitura, pesquisa, busca de informações sobre o processo de gravidez, parto e maternidade, nada se compara ao que sentimos quando temos uma vida em nossos braços, uma vida que veio da gente. Uma vida que nos marca para sempre.

Uma embriaguez de vida, um maravilhamento, um choque... palavras não dão conta de chegar perto do que sentimos. O choque de não ter mais a proteção da gravidez, de sair do hospital totalmente diferente de como entrou, sair carregando um bebê. Nossa! Não sabia que ia ser assim...

Seios cheios transbordando leite, dores nas mamadas inicias já que a mãe está aprendendo a dar de mamar e o bebê aprendendo a mamar. Quantos calores, sede e fome! Será que vai ser sempre assim? Calma, é apenas o começo, toda mudança no começo é assustadora, ainda mais quando estamos no processo de nos tornar mães.

E que fragilidade que sentimos! E que saudade do bebê, que desejo animal de proximidade, que a amamentação ajuda a selar, em uma nova relação.

Que momento delicado, em que qualquer palavra relacionada a díade mãe e bebê pode nos afetar tanto. Que medo, será que o bebê vai sobreviver fora de mim? Nos primeiros dias, idas ao quarto do bebê para verificar se ele está respirando enquanto dorme à noite. Um pouco de loucura nesse momento é perdoável. Afetos transbordam como o leite. Desejo de ainda não estarem preparados para receberem visitas, já que um novo e especial e delicado momento familiar se iniciou.

Aos poucos, uma rotina se cria. No primeiro mês completado as coisas estão mais tranquilas, a amamentação já não dói mais, o dar banho no bebê vai ficando mais tranquilo apesar de continuar cansativo. Um mês de dedicação exclusiva na relação mãe e bebê. Talvez essa dedicação total nesse primeiro momento seja importante para mais tarde poder haver uma separação mais efetiva.

A mãe, após o primeiro mês do bebê, consegue sair um pouco sem ele, nossa, que bom também é sentir o vento no rosto, sentir-se livre. Não que a maternidade seja uma prisão, mas é mais difícil do que imaginamos, exige muito de você, por mais que você tenha sonhado, planjeado e ficado super feliz ao saber que ia ser mãe. E você precisará de momentos sem o bebê, apesar de eles serem poucos. E agora, você é mãe, você está se tornando mãe, a partir da RELAÇÃO que você e seu bebê estão construindo.

Uma construção que não tem fim. Um processo. Um desabrochar, uma descoberta de forças que até então você nem suspeitava que tinha, um amor tão imenso que não cabe dentro de você, que transborda mais que o leite, e que parece crescer a cada dia.

O bebê vai crescendo tão rápido, a satisfação de você ser a nutrição para ele, o acalanto e aconchego, e de você precisar de nutrição, acalanto e aconchego. Mãe precisa de muito apoio, carinho, compreensão, do marido, de familiares, de amigas que já são mães.

As delícias e dificuldades de cuidar de um bebê novinho, de vibrar com as conquistas deles, um bebê que inicialmente só mexia os braços quando dormia, passa a ir se movimentando cada vez mais, até completar um ano e dar uma canseira danada engatinhando correndo pela casa, e a mãe correndo atrás para tirá-lo da cozinha, do banheiro, "nossa abriu o armário e tá tirando todas as roupas... uff!" Bye-bye bebê parado, que ficava quieto no carrinho... ele quer agora é se movimentar, ir para o chão, mexer no que não é brinquedo, descobrir novos espaços, objetos, ampliar horizontes... Uff! cansaço da mãe. Mas totalmente recompensando ao ver seu filho crescendo com saúde, correndo para você, te abraçando e querendo colo.

Ter filho é uma promessa de felicidade a longo prazo, nos dá um ânimo novo, renova e traz novas forças, nos dá um sentido a mais para levantar a cada dia, para ter mais disposição para a vida. E cada conquista de nosso filho nos traz e nos trará novos momentos de alegrias, de desafios, de superações. Uma grande aventura, e para vivê-la, precisamos de companheiros de jornada, de apoio, de carinho, de ter momentos para fazer coisas só para nós, nem que seja escrever um texto (mesmo que seja falando da doçura de nossa vida) enquando nossa bebê de um ano dorme. É, tá valendo a pena sim. Vamos comemorar a grande mudança de ser mãe.

Para terminar, um lindo poema da mãe Viviane Mosé:

Sonhei que dos meus peitos nasciam flores e frutos
De minhas pernas, brotavam amoras e figos
E todos se ajoelhavam
- É uma santa! – diziam.
Acordei com os peitos inchados

Derramando leite por todo o lado
Eu havia dado fruto
O milagre da vida havia em mim se revelado
Era como se a terra toda brotasse
Era como se meu corpo a terra fosse
Era como se a vida em meus olhos olhasse
Como se as mãos, ela me desse
Era como se calada, eu desde sempre estivesse
Somente agora de mim a palavra nascesse
A palavra VIDA como única palavra se fazendo corpo em meu corpo estava
Meu corpo de lençóis exposto ao vento
Agora mar mais que rio, é o espaço mais que o tempo
Eu disse sim quando pari
Eu disse eu topo, eu aceito e afirmo
Mesmo com medo
Todas as coisas
- foi o que eu disse quando eu fiz um filho.
E foi aí que ele me fez.


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